Dezoito anos atrás, eu li Frogs Into Princes (Sapos em Príncipes, Summus Editorial) e aprendi muito sobre o conceito de estados e âncoras. Desde então, tenho-me dedicado a escrever sobre estados e a ensinar sobre o domínio dos mesmos. Quando refletimos sobre o que realmente significa ter o domínio do próprio estado, percebemos que essa é uma das habilidades mais valiosas que um ser humano pode adquirir. Muitos problemas, na vida, têm suas raízes em estados sem recursos: estresse, raiva, depressão, ansiedade, medo, preocupação, bloqueio ou pressão, e por aí vai. Muitos outros problemas surgem em função de maneiras ilegais, não saudáveis ou contraproducentes que são empregadas para tentar sair de estados sem recursos ou chegar a estados agradáveis e prazerosos. Vícios de todos os tipos podem ser observados: comer em excesso, beber em excesso, usar drogas, jogar, prejudicar os outros, etc.
Durante os últimos dezessete anos e meio, eu colecionei aproximadamente 130 a 150 estados favoritos. Mas, recentemente, eu tenho colecionado estados por hobby. O número de estados em minha lista, no computador, cresceu aos saltos e em pencas. Cada estado assemelha-se a um objeto precioso, numa coleção rara. Isso criou um grande impacto em minha vida e na vida daqueles a quem tenho influenciado para que mantenham suas próprias listas.
Minha lista original consistia somente de estados de recursos. Muitos eram termos genéricos, como: estado de alegria, estado de autocontrole, estado de serenidade, estado de coragem, estado de confiança, estado de poder, estado criativo, estado assertivo, estado centrado. Agindo como se você estivesse em qualquer desses estados, lembrando-se de momentos passados, quando você esteve nesses estados, imaginando como seria estar nesses estados no futuro, firmando âncoras ou modelando aqueles que são ou foram a personificação desses estados, você pode acessá-los. Algumas pessoas acharam isso relativamente fácil de fazer. Mas muitos outros não perseveraram sozinhos. Quando tinham um orientador, ele os motivava a dar passos efetivos. Mas, depois, abandonaram a experiência.
Eu gostaria de compartilhar com os leitores o processo que uso, atualmente, para auxiliar as pessoas a atingirem uma consciência mais plena do próprio estado e a acessarem estados que melhorarão suas vidas. No livro que vou lançar em breve, apresento uma seção sobre como colecionar uma biblioteca pessoal e um arquivo de estados.
Eu acho eficaz auxiliar as pessoas para que iniciem duas listas de seus estados pessoais. Uma lista com os estados de recursos que elas experimentam, e outra com os estados de falta de recursos. Ambas as listas são mantidas em ordem alfabética. Toda vez que você se encontrar num estado especial de recursos, dê-lhe um nome. Deixe que esse rótulo lembre a você a ocorrência ou incidente específico que o provocou. Podem ser estados com o nome de canções inspiradoras e tocantes. Os estados podem ser nomeados conforme seus modelos de estados específicos: grandes comunicadores, a pessoa mais serena que você já encontrou, aqueles com coragem indômita e nervos de aço. Também podem ser nomes de lagos cheios de paz, jogos excitantes, vitórias brilhantes, vezes em que a multidão tornou-se selvagem, momentos de iluminação espiritual e ocasiões de clareza mental. Se você notar que está tendo coragem perante um indivíduo em particular, dê o nome desse indivíduo ao estado. Se você teve professores, mentores ou guias em cuja presença sentiu-se satisfeito consigo mesmo, pensando e agindo no seu máximo, nomeie seus estados por essas pessoas.
Continue sempre acrescentando novos estados à sua lista de estados de recursos. Isso o torna mais consciente dos momentos de apreciação e gratidão, momentos de força, momentos de transcender os limites, momentos de vitórias de todos os tipos.
Você vai se lembrar de momentos do passado em que se sentiu em estado de recurso. Rotule esses momentos. Volte até sua infância lembrando-se das coisas mais positivas que vivenciou. Algumas pessoas têm predileção por lembranças ruins. Isso é bom para aqueles que desejam construir sua lista de estados sem recursos. É melhor ainda para aqueles que desejam, agora, acrescentar estados de recursos no presente, àquelas lembranças antigas. Fazendo isso, no futuro, quando você se lembrar dessas coisas, elas estarão elevadas à categoria de ativos e recursos, ao invés de passivos.
Eu descobri que é muito benéfico manter também uma lista de estados sem recursos. Isso pode ajudar a fazer a ressignificação desses estados para outros que transmitam poder ao seu proprietário. Provavelmente, as pessoas usam mais a palavra "humor" do que "estado". Esperamos que as estatísticas mudem, e que eventualmente mais pessoas venham a falar sobre seus "estados" ao invés da consciência limitante de "maus humores." Você poderá ouvir as pessoas falarem em "humor", talvez assim: "Eu estou de mau humor hoje." Ou, "Não adianta, não estou no meu dia." Aqueles que falam dessa maneira, frequentemente sentem-se sem coragem para tomar uma atitude proativa e mudar seu "humor". Porém, quando alguém usa a palavra "estado" nos momentos em que se sente sem recursos, isso pode facilmente servir como uma âncora para procurar a lista de estados de recursos. No começo, pode-se fazer isso com uma lista escrita. Em pouco tempo, o cérebro fará isso automaticamente.
Há algum tempo atrás, eu levei alguns de meus netos ao zoológico. Os maiores gostaram de ver todos os animais. Mas, para o seu avô, toda a viagem foi um estado de "Levar meus netos ao zoológico". Eu acrescentei os estados de "pinguins nadando", e "ver os macacos se balançarem livremente de uma árvore para outra", imaginando como um pinguim ou macaco cria o próprio estado. Mas, minha neta de três anos ficou o tempo todo repetindo o mantra: "Eu quero ver as zebras". Esta estratégia levou-a a focalizar somente aquilo que ela queria ver no futuro, perdendo a oportunidade de gozar do momento presente. Acrescentei, então, o estado "Eu quero ver as zebras", em minha lista de estados sem recursos.
Eu partilhei a metáfora com alguns adultos capazes de compreender a mensagem subjacente. Para muitos, a quem o conceito de "estados" é novo, o que os capacita a internalizar o valor dos estados é quando eles conseguem estabelecer seus estados personalizados. Isso os coloca em um estado de "agora eu realmente entendi!" Alguns de meus estados prediletos são:
- Ao acordar, eu acesso o estado de "Estou grato por receber mais um dia de vida".
- Quando derrubo alguma coisa no chão, meu cérebro acessa o estado de "Que bom que a lei da gravidade ainda funciona."
- Ao respirar, eu entro no estado de "Eu aprecio cada uma de minhas respirações".
- Ao ouvir o ruído de uma furadeira, eu entro no estado de "A furadeira está fazendo meus conceitos entrarem cada vez mais profundamente em meu subconsciente".
Alguns dos estados que fazem grande diferença na vida das pessoas são: "Aprender algo com todas as pessoas que encontrar." "Melhorar o meu cérebro com todos os estados e recursos, em todos os contextos." "Centrado, focalizado, e fluindo". "Cheio de energia vital e plenamente vivo". "Este momento é o primeiro momento do resto de minha vida". "Transcendendo insultos e negativismo". "Rapport instantâneo!" "Eu me sinto bem, eu me sinto maravilhoso!" "Ganhando um bilhão de dólares na loteria." (Na verdade, você não precisa realmente ganhar a loteria para acessar este estado, assim como as preocupações acessam o estado de ansiedade sem que tais preocupações jamais se tornem realidade.)
Habitualmente, leia e releia sua lista de estados de recursos. À medida que você lê os títulos desses estados, você vai experimentar aspectos de tais estados. Tendo-os diante de sua consciência, é mais provável que seu cérebro acesse espontaneamente esses estados para você.
Vou terminar este artigo desejando ao nosso planeta estados de paz, cura, alegria, amabilidade e compaixão. Aqueles que partilham dessa visão estarão associados, tornando esse desejo uma eventual realidade.
O Rabino Zelig Pliskin é autor de catorze livros. Os últimos seis incluem: Happiness, Kindness, Courage, Anger: The Inner Teacher and Marriage.
Trad.: Hélia Cadore
Artigo publicado na Anchor Point, Março 2001
Artigo publicado no Golfinho Impresso Nº77 de Junho/2001