Como podemos transformar o atrito em tensão criativa?
Aqui está uma forma de chegar ao âmago do assunto.
DuAnne Nebeker
Quando pessoas trabalham juntas, muitas vezes discordam entre si - e ocasionalmente essa discordância se transforma em séria disputa. Empregados hostis podem exercer um impacto negativo sobre o moral dos outros, reduzindo a produtividade e, em consequência, os lucros.
Um dos erros mais comuns dos proprietários e gerentes de empresa consiste em ignorar os conflitos. Fazer de conta que eles não existem causa mais prejuízo do que bom resultado. Quando ignoramos os conflitos, enviamos uma mensagem de que não respeitamos nosso pessoal e não damos o devido valor àquilo que está acontecendo ao nosso redor. Às vezes, não nos damos conta de como o ambiente realmente é, ou do que estamos criando.
Outro erro sério consiste em acreditar que o conflito, por sua própria natureza, é negativo. O conflito é uma mensagem subjacente e, quando reconhecido, pode se constituir numa ferramenta de transformação. Se acreditarmos que o conflito não é saudável, estamos nos predispondo a sermos desonestos e limitados em nossas comunicações. Assim, o que podemos fazer quando surge uma escaramuça interna dentro da companhia? Começando com a pressuposição de que as pessoas são motivadas por um desejo básico de resultados positivos, i.e. "Que todo comportamento tem, atrás de si, uma intenção positiva", estamos em posição de não culpar, reprimir ou ignorar o comportamento. A intenção pode estar enterrada profundamente; é importante encontrá-la e trabalhar com a energia positiva.
O segundo passo consiste em considerar as pessoas separadamente de seus comportamentos. Rótulos como "bom" ou "mau" são úteis unicamente para quem deseja a conformidade e pode causar autossabotagem. Trata-se de mudar o foco. Para começar, é preciso focalizar algo que ambas as partes desejam. Procure um conjunto de dados diferentes, pedindo que cada uma das partes procure incidentes específicos visando encontrar a intenção positiva de tal ação ou comportamento. Frequentemente, a "intenção" fica de fora da interação, mas está presente dentro do processo do pensamento. Ajudar cada um dos empregados a pensar, falar e agir sobre a intenção positiva, conduz a um caminho diferente de soluções e possibilidades.
Cada um de nós passa pelo mesmo processo: recebemos dados através de nossos sentidos; selecionamos determinados dados sobre os quais colocamos nosso foco. Depois, atribuímos um significado a esses dados, tendo por base nossas pressuposições e nosso próprio "mapa de mundo". Frequentemente, fazemos a leitura mental sobre a percepção dos outros - presumindo que esta se assemelha ao nosso próprio mapa da realidade. Podemos notar, ou não, se o sentimento que temos é congruente com nossos valores e crenças. Se estivermos suficientemente atentos à congruência, agiremos de maneira muito diferente do que se agirmos ou reagirmos de maneira incongruente.
Os pensamentos dirigem a ação. O conjunto de nossas pressuposições inconscientes, profundamente estabelecidas, estrutura nossas experiências sem que tenhamos consciência disso. Considerando-se que o pensamento, a linguagem e a ação estão dinamicamente inter-relacionados, nossa atenção é focalizada conforme cada um desses elementos ou por todos eles. As perguntas que fazemos são uma função do processo de nosso pensamento, e a maneira como expressamos esses pensamentos e comportamentos subsequentes. Cada um de nós é capaz de adquirir a habilidade de perceber nossas próprios padrões e de como mudá-los. Uma maior flexibilidade nos permitirá ajustar um determinado pensamento, palavra ou ação para uma reação mais favorável.
À medida em que nos tornamos mais conscientes de nossas congruências ou incongruências pessoais, abrimos caminhos para descobrir mais sobre quem somos e se nossos valores e crenças dão suporte à nossa identidade. Podemos literalmente formular novas crenças capazes de dar um suporte mais adequado à nossa identidade e ao nosso sistema pessoal de valores.
Aprender como reconhecer padrões de comportamento ajuda-nos a discernir se o conflito se origina no ambiente externo ou dentro de nós mesmos. É muito saudável permitir que o conflito suba à superfície, para que possa tornar-se parte da ressignificação da energia negativa que o envolve, e redirecionar-nos na busca da intenção positiva que move os indivíduos e as organizações em direção a resultados específicos.
O conflito é meramente uma forma de feedback. Trabalhe com o feedback que você recebe, buscando a intenção positiva que está por detrás dos pensamentos, linguagem e comportamentos. Você ficará surpreso ao ver quão facilmente se formam as estruturas de consenso.
DuAnne Nebeker é Master Practitioner com 20 anos de experiência em comunicação empresarial, relações públicas e programas de comportamento organizacional. Ela reside em Salt Lake City.
Publicado: Anchor Point, Maio, 1996.
Publicado no Golfinho Impresso Nº 63 - abril 2000
Trad. Hélia Cadore
Revisão: Maria Helena Lorentz